
Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol no Brasil? São muitos sonhos para poucas vagas. Porém, alguns não se contentam, são viciados, precisam conviver com o esporte. Transformam-se em empresários, fisioterapeutas, preparadores físicos, técnicos, cartolas de clubes e (ou) “árbitros de futebol – alvos do artigo”.
A profissão requer bastante perseverança. Vive-se ofendido e hostilizado nos estádios tanto pelos torcedores como pelos representantes oficiais dos clubes. O processo regulatório profissional prejudica o andamento do pagamento dos cachês suscetíveis a calote – quem paga é o clube mandante que utiliza um contrato social sem vínculo com o contratado. Existem muitos casos de times mandantes derrotados que não cumpriram suas obrigações trabalhistas.
O árbitro de futebol deve viajar por todo país. A saúde é denegrida, um dia na Venezuela apitando com 35 graus; depois de dois dias, no Rio Grande do Sul com três graus de temperatura. Não existem diretos, benefícios ou regulamentação trabalhista. Para ser árbitro é estritamente obrigatório o exercício de outra profissão para capitalização de renda extra, tentativa de, a meu ver em vão, evitar a corrupção.
Para virar um juiz de futebol é necessário fazer o curso especializado na Federação de Arbitragem do próprio Estado, onde se aprende a interpretar as regras de futebol que constam no livro oficial da FIFA. Depois, é só esperar o convite para apitar nos juniores. Este é o momento onde o candidato deve se empenhar ao máximo para que os “juízes de avaliação” (comissão de ex-árbitros que avaliam futuros candidatos) selecionem o mesmo para atuar pela Federação nas divisões dos campeonatos estaduais.
Existem dois momentos especiais em uma carreira de sucesso: ser considerado árbitro do quadro oficial da FIFA e apitar algum jogo da Copa do Mundo. O destaque vai para o ex-árbitro e hoje comentarista de arbitragem, Arnaldo Cesar Coelho, que apitou a final da Copa do Mundo de 1982 entre Itália e Alemanha com os italianos vencedores em terras espanholas.
As guerras políticas são evidentes. Muitas vezes o árbitro é envolvido sem a própria vontade. Em certo campeonato paulista realizado no final do século passado, o então presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), Eduardo José Farah, estava comprando uma grande briga com a rede Globo. Com isso, Farah anunciou para imprensa que o jogo da “super quarta” começaria 21h30, no meio da principal novela global. No início da partida logo após o cara e coroa o celular do arbitro da partida, Alfredo Loeblin, tocou. Conclusão, o jogo começou as 21h50, logo após a novela, com a imprensa caindo em cima de Loeblin que ainda teve que atender ao telefonema, escondido das câmeras.
Apesar de características físicas antagônicas, as mulheres estão a cada dia ingressando nessa profissão, principalmente as formadas em educação física. Porém, alguns exemplos femininos acabam denegrindo a imagem das arbitras. Foi o caso de Ana Paula de Oliveira que surgiu com uma grande representante do movimento feminino no esporte e acabou saindo do foco, vulgarmente, diante o afastamento obrigatório que a Federação impôs à mesma depois da divulgação das fotos na revista Playboy.
A “imagem” para a profissão é extremamente cobrada. Deve-se estar sempre trajado formalmente, em campo ou fora dele, demonstrando credibilidade. O árbitro pode ter uma sequência de trinta partidas com boa atuação, porém, se errar um jogo está perdido. A imprensa pressiona a Federação que bota o cidadão na geladeira. Hoje em dia, o mínimo erro é identificado pelas câmeras de vídeo de alta resolução.
Referência bibliográfica
Awaad, Elias. Curso de Jornalismo Esportivo. Palestrante: Alfredo Loeblin. Faculdade Cásper Líbero. São Paulo. SP. Jun/2007
Foto: Arousa Fútbol 7 no Flickr.